domingo, 21 de maio de 2017

Epístola do Nelson: a História Nova era marxista?


Nelson Werneck Sodré: a História Nova e o marxismo e a obra que marca seu pensamento



 
 (Este material foi digitalizado por Welington Diogo Franco)

Epístola do Nelson: a importância de Álvaro Vieira Pinto e do Marxismo


Nelson Werneck Sodré - Carta de 10 de fevereiro de 1992 - a importância de Álvaro Vieira Pinto e a atualidade do marxismo (pág. 1)




(Este documento foi digitalizado por Welington Diogo Franco)

domingo, 17 de novembro de 2013

NELSON WERNECK SODRÉ: Didática da História e feudalismo no Brasil

Surgimento do feudalismo no Brasil
Nelson Werneck Sodré é tributário de José Carlos Mariátegui.

1. Com o desenvolvimento da produção cafeeira vem o colonato, a servidão, substituindo o trabalho escravo (Formação histórica do Brasil, pág. 168).

2. Há terras apropriadas pelos donos. Há terras sem dono que vão sendo apropriadas por meios que não o da compra: surge a regressão feudal: o pequeno lavrador e a pequena roça de subsistência estão fora do mercado. (Formação histórica do Brasil, pág. 169).

3. Os escravos não são transformados em trabalhadores assalariados em 1888. Vão para a servidão ou para a marginalização. (Formação histórica do Brasil, pág. 172-173). Poucos escravos vão para o trabalho livre.

Didática de História: fim do império brasileiro

As notas e esboços são retiradas dos livros de Nelson Werneck Sodré porque estou convicto de que eles devem chegar a escola básica latino-americana, pela mesma razão que Werneck Sodré escreveu, "a história é uma ciência social e política", instrumento de autonomia pessoa e consciência crítica de uma nação. O texto ficará melhor se fizermos uma autoria coletiva, isto é, os que utilizarem os esboços me enviarem as críticas e as dúvidas.

IMPÉRIO BRASILEIRO: fazenda senhorial sem o povo

1. O império brasileiro até a metade do século XIX (1822 a 1840) não havia se consolidado, isto é, movimentos sociais contestavam o governo central. Por exemplo, os Farrapos até1845, os Paulistas até 1842 e Praieiros em 1848. O Império também é abalado pelos movimentos republicanos nas vizinhanças latino-americanas. O republicanismo, portanto, é influência antiga na história brasileira e não começou em 1889.

2. A classe dominante no Império, a dos senhores de terras e de escravos, somente se consolida no poder, na metade do século XIX, no chamado "segundo império". Ela fizera a independência e organizara o ESTADO conforme seus próprios interesses. Divergências internas haviam, mas até aqui estavam acomodadas. No final do Império as divergências ressurgem e levam a queda do Imperador e de tudo o que ele representava.

3. Questão do trabalho no Império. O trabalho é que cria riquezas. É importante discutir com os alunos como era realizado o trabalho na sociedade brasileira. Era pela escravidão negra e pela servidão. Nos dias do Império o Brasil não tinha entrado ainda no capitalismo. Este só existia na Europa. Mas é durante o Império que o movimento capitalista europeu vai empurrando o Brasil para deixar o escravismo, o mercado mundial e o mercado interno que começa nascer aqui, tornam a escravidão uma coisa anacrônica entre nós. É por isso que a escravatura será, totalmente, abolida em 1888 e também o Império cairá com ela.
Começa nessa época a introdução do trabalho livre (que nem sempre significa trabalho assalariado), mas muitos escravos vão se tornando como servos nas propriedades de terra. E há mais SERVOS que trabalhadores livres no interior. O escravismo vai sendo corroído por si mesmo.

4. Por que abolir a escravidão?
O escravo é negro. Estes não tem propensões para o trabalho livre. O escravo não é um consumidor.

5. Idéias falsas sobre a escravidão ou que ainda derivam dela: Brasileiro não trabalha: preguiça do brasileiro
luxúria do brasileiro
gosto pelo ócio e desprezo pelo negócio
influência do clima como anestesiante
abundância de recursos naturais (que dispensaria o trabalho)

Europeus são melhores trabalhadores: "Havia, realmente, a crença ingênua da superioridade inata do trabalhador branco, particularmente daquele que, além de branco, era de "raça" diferente da dos colonizadores lusos, isto é, os nórdicos, os saxões, os louros. Todos os problemas brasileiros estariam resolvidos com a "arianização" da massa de trabalho. Nesse sentido, o Império consumiu grandes verbas para financiar a colonização". (Formação histórica do Brasil, pág. 171).

6. O escravo e a propriedade da terra

.1850 é promulgada a lei de terras: a única forma de ter uma propriedade seria pela compra. Escravo poderia comprar?
Quem possuísse glebas até essa data seria proprietário delas.
As demais terras seriam da União. Começaram aí as grilagens. Estas continuam até hoje.
Em nossos dias a imprensa criminaliza quaisquer movimentos que defendam o acesso da população à terra. Os professores farão bem em acessar a dissertação de mestrado do Professor Tiago Egídio Avanço Cubas - http://prope.unesp.br/xxi_cic/27_36611912843.pdf-
(Jornal da UNESP, 293/outubro de 2013).

7. Campanha abolicionista - parecida com as de nossos dias
Os senhores ligados ao café querem a abolição. Por que? concorrência com o trabalho livre e assalariado da imigração? (Senhores do café é uma divisão na classe dominante que sustenta o Império).
a. 1866 Pimenta Bueno propõe a extinção mas não encontra apoio político;
b. 1870 lei do Ventre Livre que estanca a fonte de escravos;
c. 1884 libertação dos sexagenários
Os abolicionistas eram chamados de comunistas, entre eles, Joaquim Nabuco. "Não interessa aqui mencionar os episódios que assinalaram o andamento das referidas leis, apontadas, particularmente a última, como anunciando a catástrofe, e os seus propugnadores como partidários da subversão e até mesmo "comunistas", como aconteceu com Joaquim Nabuco, o que compra ser a ignorância mestra da malevolência". Nelson Werneck Sodré - (Formação histórica do Brasil, pág. 172)
Fizeram isso em 1964 e continuam fazendo em nossos dias, nas questões de reforma agrária, avanço do povo no governo.

8. A abolição - 1888

a. O escravo não foi indenizado. Simplesmente foi solto. Sem terra, sem dinheiro, sem escola. A lei Áurea não mencionava nada do que seria sua condição depois.
b. Os escravos não foram transformados em trabalhadores assalariados (Formação histórica do Brasil, pág. 172-173).
c. Os escravos são obrigados, pelas circuntâncias da vida, a seguirem uma de duas alternativas: servidão ou semi-servidão ou a marginalização da sociedade. (Formação histórica do Brasil, pág. 173)
d. A abolição foi uma solução política para a imagem do país, para os interesses dos senhores do café, mas não foi uma solução econômica para o país, não havia condições para que o mercado absorvesse essa massa. "O fardo da escravidão foi largado na estrada pela classe dominante. Tornara-se oneroso para que ela o carregasse" - Nelson Werneck Sodré - Formação Histórica do Brasil, pág. 173)

9. Surgimento da Classe Média no Brasil se dá no Império

Este tópico pode merecer uma aula mais longa e exclusiva, incluindo, talvez, um período maior, até 1930. O professor pode pincelar aspectos apenas, ao falar do fim do Império e do papel da classe média nisso.

9.1. Nasce a classe média - segunda metade do século XIX, isto é, a partir dos anos de 1850, quando começa a surgir o "mercado interno" com a mineração.
9.2. Quem constitui a classe média? Aqueles que não vivem de explorar o trabalho alheio ((Nelson Werneck Sodré, Formação histórica do Brasil, pág. 184): clero (que tinha bastante contato com os menos favorecidos), militares de terra (antagônicos da Guarda Nacional. Entrava para o Exército que não podia pagar para estudar), funcionários do Governo, pequenos comerciantes. É a classe revolucionária, progressista na época (Nelson Werneck Sodré - Formação histórica do Brasil, pág. 185). A abolição, ampliação da representação eleitoral, renovação de mandatos, federação e a República são obras dela. (Nelson Werneck Sodré, Formação histórica do Brasil, pág. 187).

9.3. Funcionários públicos e classe média - Já no Império, o Estado Brasileiro, era o maior empregador porque não havia bom mercado interno que oportunizasse o trabalho. (Nelson Werneck Sodré, Formação histórica do Brasil, pág. 183)
9.4. Classe média e cidadania: A participação política era baseada na renda. Analfabetos votam se tivessem renda.
Escravos e trabalhadores não tinham representação política. "Não ficava sem representação a classe trabalhadora apenas, em que a componente de escravos e servos constituía esmagadora maioria; ficava excluída também a classe média, na sua maior parte". (Nelson Werneck Sodré - Formação histórica do Brasil, pág. 184)

10. O papel do clero na política e cidadania no Império
Nelson Werneck Sodré concede destaque a participação e ao papel social-popular do clero católico romano no Império, como elemento de representação dos interesses políticos e sociais dos menos favorecidos no Império: "Por outro lado, cabendo ao clero secular funções oficiais, elas lhes transmitiam, além dos misteres específicos, as ânsias, as inquietações, os impulsos populares...Demais, a classe senhorial, absoluta ainda em sua dominação, não tivera necessidade de utilizar o clero como instrumento seu e a crença como base ideológica - daí a ausência de ortodoxia no catolicismo, em nosso país, naquele tempo, os hábitos frouxos, a tendência à tolerância". (Nelson Werneck Sodré - Formação histórica do Brasil, pág. 185-186)

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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Nelson Werneck Sodré - o que se deve denominar de História?

Nelson Werneck Sodré - o que é História

Rio - 27.09.93

Prezado Acir da Cruz Camargo,

saúde e paz. Respondo sua carta de 16 do corrente. Fico muito satisfeito em saber de sua pesquisa sobre a minha obra. Grato por isso. A leitura dos autores que fizeram críticas à minha obra e ao ISEB é também merecedora de estima. Já tive a oportunidade de escrever que são os nossos adversários, adversários das nossas idéias, que fornecem o nosso verdadeiro perfil, justamente porque destacam o que não somos, o que é tão importante quanto o que somos. Respondo por isso com prazer ao questionário que acompanha a sua carta, ponto por ponto. Antes que me esqueça: o livro sobre populismo já foi encontrado e remete-lo-ei na próxima semana. Estou dependendo apens da pessoa que ficou de me trazer em casa exemplares desse livro. E vamos ao questionário.

1. O fato de autores da USP (só conheço um, aliás) me acusarem de seguir uma linha esquemática e estalinista não tem, para mim, a menor significação. Corresponde, apenas, a uma posição negativa que faz parte da luta ideológica. Nós, no ISEB, não postergávamos a luta de classes, absolutamente. O ISEB tinha vários professores e, conquanto, depois de grave crise, preponderasse ali uma linha marxista e nacionalista, a verdade é que ela comportava variantes. Alguns críticos, anti-isebianos por vários motivos, estavam mais à esquerda do que os isebianos, acusavam-nos, a nós do ISEB, de não sermos suficientemente esquerdistas. Acontece que eles, os críticos, não eram marxistas. Não fomos, pois, revisionistas, muito ao contrário. Voce pergunta: "Por que um marxista, num dado momento, deixa de pensar a luta de classes e sim uma aliança de classes". Ora, isso não deriva de desejos; deriva da realidade. Corresponde à necessidade de estabelecer aliança com uma classe para derrotar a outra, aquela que, na fase é, é a principal inimiga. Isso acontece com frequência na História e não depende apenas da vontade das pessoas.

2. Como conciliávamos, no ISEB, eu e os companheiros, a questão da luta de classes com a aliança com a burguesia nacional, naquela fase para enfrentar o imperialismo? O inimigo principal era o imperialismo. Os nossos críticos desejavam que, por fidelidade a um princípio teórico, abandonássemos a luta ou nos isolássemos. Havia, na burguesia nacional, contradições com o imperialismo. Isso nos aproximava dela; ou, antes, ela se aproximava de nós. Não me recordo das colocações do companheiro que escreveu Consciência e realidade nacional, livro importante que precisa ser lido com senso crítico. Claro está que jamais entendemos a aliança como esquecimento de que há uma exploração do trabalho, luta de classes. A aliança da fase não importava em ignorar isso ou negar.

3. Temos, realmente, a mais retrógrada burguesia, na História. Isso, entretanto, não importa em negar, na sua parcela nacional, contradições com o imperialismo, que é um dado da realidade. Enquanto ela aceita tais contradições, tem condições de lutar com o trabalhador, não para estabelecer o socialismo, mas para enfrentar, transitoriamente, um inimigo comum.

4. Sempre pensei que as teorias que defendi, na teoria e na prática, eram, e são aplicáveis a todos os povos latino explorados do mundo, particularmente aos latino-americanos.

5. O Fascismo cotidiano é um livro, editado em São Paulo, em 1990, pela editora Oficina de Livros (Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 469, s. 83, cep 01317-001, São Paulo).

6. Não tenho notícias de recentes comentários, resenhas ou críticas ao meu livro Formação histórica do brasil. Isto faz parte da política de abafar pelo silêncio, usual entre nós, na luta ideológica.

7. Não tive formação universitária em História. Sou, nela, um autodidata. No meu tempo, não existiam estudos universitários de História. Não havia faculdades de Filosofia, nem mesmo Universidades, nem Institutos de Letras. E a vida militar, depois, me impediu que, mesmo adulto ou velho, me matriculasse nas que apareceram. Os de formação acadêmica me criticam e alegam essa ausência de diploma para me negar. Na verdade, o ensino de História, nas Universidades, está muito distante daquilo que eu aceito como História. É uma forma de alienação. Já dei cursos em diversas Universidades, cursos avultos. Nunca exerci a cátedra universitária, nem desejo exercê-la.

É o que me acode para responder aos quesitos propostos. Fico ao seu dispor para mais. Um abraço ao Pedro, Outro em voce do

Nelson Werneck Sodré

NELSON WERNECK SODRÉ: um general contra o neoliberalismo

Rio, 21.07.96

Prezado Acir, saúde e paz.

Respondo sua carta de 12 do corrente.

A correspondência com os amigos não representa peso para mim. Apesar dos 85 anos completados, continuo em atividade, agora, no combate à última praga que nos chega, o neoliberalismo.

A relação entre o ISEB e Paulo Freire, como a minha relação com o trabalho dele existiu de fato. Não participo da posição de Vanilda Paiva em relação a ele, apesar da consideração que tenho por ela.

Não espanta a sua dificuldade em encontrar as minhas obras. Elas estão esgotadas, na maior parte e o mercado editorial sofre a crise imposta pelo neoliberalismo. Com um pouco de paciência, creio que voce conseguirá completar a sua coleção.

Cláudio Giordano, editor benemérito e audacioso, gostaria de reeditar a História Nova mas as dificuldades são insuperáveis. A opinião do professor, que voce resume, é uma opinião: nada tem a ver com o que escrevi.

O plano econômico de FHC é uma enfermidade universal; e a Revolução brasileira vai avançar, apesar dele. Há uma ala da burguesia que, ligada ao mercado interno principalmente tem interesses no nacionalismo. E por isso vem sendo esmagada.

Abraços,

Nelson.